Por: Redação TN / Leonora Walet e Victoria Bryan, Reuters
Após provocar uma guerra de preços e caos nos lucros de fabricantes europeus e norte-americanos de células e painéis solares de silício cristalino, a China agora resolveu focar na produção de turbinas eólicas. Apesar da dinamarquesa Vestas e do conglomerado norte-americano General Electric ainda terem sido os dois principais fornecedores de turbinas em 2009, segundo a consultoria dinamarquesa BTM, as empresas chinesas estão se aproximando rapidamente. Sinovel Wind, Xinjiang Goldwind Science and Technology Co e Dongfang Electric conquistaram lugares entre as top 10 e as empresas estão ansiosas para competir no mercado de exportação.
“Os fabricantes chineses já implantaram equipes de venda internacional e estão buscando ativamente contratos no exterior. O processo está a caminho”, comentou o diretor do grupo de energias renováveis, recursos e energias do HSBC de Hong Kong Robert Todd.
“É apenas uma questão do quanto antes eles conseguirem realmente o ímpeto”, disse Todd, que prevê que as empresas eólicas chinesas conquistarão mais projetos fora da China nos próximos 12 meses.
A Goldwind anunciou na segunda-feira o estabelecimento de uma unidade em Chicago, marcando a sua entrada em um mercado amplamente abastecido pela GE. A empresa também implantou uma base de produção na Alemanha e uma subsidiária na Austrália no final do ano passado. A maior fabricante de turbinas eólicas da China e a número três no mundo, a Sinovel, exportou 10 turbinas de 1,5 MW cada para a Índia no ano passado. A empresa também adquiriu em março sistemas elétricos para a sua turbina de alta capacidade, com 5 MW, uma tecnologia doméstica que deve ser exportada.
Em relação ao mercado solar, a China pode oferecer produtos a preços muito menores do que os europeus e norte-americanos, despertando temores que os preços das turbinas eólicas possam ser pressionados para baixo e criando a super-oferta que se abateu sobre o mercado solar no ano passado.
“É claro que os preços de mercado são menores e podemos ver isso nos contratos do governo”, disse o CEO da fabricante de caixas de engrenagem Hansen Transmissions Alex De Ryck, se referindo aos projetos eólicos ganhos pelas empresas locais na China.
Uma turbina típica consiste de torres de metais de 65 metros de altura, uma lâmina do rotor do tamanho de um Boeing 737 e uma nacele que segura componentes do tamanho de um motor home pequeno. As turbinas equivalem a 70% dos custos de um projeto eólico e são vendidas por cerca de US$ 732.215 (5 milhões de Yuan) por MW na China. Já nos Estados Unidos elas podem alcançar US$ 1 milhão por MW.
Vento para exportação
A China é alvo freqüente de reclamações por bloquear o acesso ao seu mercado ou ajudar injustamente seus exportadores com enormes subsídios e empréstimos estatais baratos. As empresas alemãs de energia solar Conergy e Solarworld expressaram forte preocupação sobre as práticas de precificação dos fabricantes de painéis chineses, que historicamente desvalorizam seus produtos em cerca de 20%.
Mas ao menos por agora, os fabricantes chineses de turbinas estão altamente focados domésticamente, sendo que as exportações em 2009 de menos de 30 MW representam apenas uma pequena fatia dos 24.540 MW em capacidade instalada fora da China. A sua meta comum de incentivar as exportações para contribuir significativamente às vendas, ainda é uma ameaça distante para muitos players internacionais, especialmente devido à logística envolvida para o transporte das partes enormes.
“Os produtores chineses começaram a se envolver no exterior, por exemplo, na Índia ou na região Ásia-Pacífico. Entretanto, os players chineses estão operando principalmente no mercado doméstico”, disse a porta-voz do maior conglomerado de engenharia europeu, a Siemens.
A China é o maior mercado de energia eólica do mundo, dobrando a sua capacidade instalada em 2009 ao adicionar 13 mil MW. As empresas locais de turbinas possuem atualmente 80% do mercado chinês, o que menos de uma década atrás era dominado por empresas globais, como a Vestas, GE, e a espanhola Gamesa. A Vestas espera que a sua estratégia de melhoramento da tecnologia, ao invés da competição por preços, auxilie a combater a crescente competição chinesa.
“Não é do nosso interesse entrar em uma competição focando apenas no preço”, disse o presidente da Vestas China Jens Tommerup à Reuters.
“Nossas turbinas são confiáveis, produtivas e eficientes, a longo prazo, o que significa um custo baixo da energia. Também estamos focados na construção de parcerias a longo prazo com nossos clientes, que inclui todos os aspectos da energia eólica”.
*Traduzido por Fernanda B. Muller, CarbonoBrasil www.tnsustentavel.com.br